sábado, 5 de janeiro de 2013

Piquiá

O Mês de janeiro avança na sua normalidade chuvosa, renovando a mata, fazendo florir e brolhando por toda parte os frutos desse tempo. Há dias de dilúvios, torrenciais; invadindo ruas e tornando os cursos d'águas velozes, com grandes enxurradas. Há prejuízos principalmente para quem mora em áreas de riscos de alargamentos nas margens dos igarapés.

Do outro lado, todo esse dilúvio que desagua sobre nossas cabeças e tudo mais, tem sido um alívio para a floresta que nesses últimos anos está sendo castigada por um calor infernal, sofrendo perdas irreparáveis e só com o tempo poderemos conseguir perceber os estragos dos efeitos das temperaturas elevadas.

As frutas de janeiro enchem as feiras e mercados, encantam olhos e olfatos pelas suas cores e cheiros. Quem plantou no começo da seca, começa agora a colher os frutos das plantas da vázea e a melância com seu verde e vermelhos fortes, gelada é ótima para combater os dias calorentos.

Aproveito esse tempo para me fartar de piquiá, para mim uma das melhores frutas da Amazônia. Cozido com café e farinha não encontra concorrente. Sua carne macia e cheirosa que a tudo impregna; estou escrevendo com desejo de modê-lo, com água na boca. Sinto sua carne fossalizada em minhas artérias, parte da memória do meu corpo. Se somos também o que comemos, essa carne já faz parte da minha e suas placas de gorduras acumuladas estão nas minha plaquetas sanguíneas. Ainda bem que é um bom colesterol. Sei que quando algo chega ao sangue começa a fazer parte da memória mais profunda do ser humano, essa inesquecível.

Sempre pensei que é uma fruta com seu potencial pouco explorado. Os antigos faziam sabão dele, principalmente os que habitavam distante das cidades; também usavam seu óleo, talvez esse seja o que melhor podemos aproveitar; uma gordura vegetal, saudável. Quem sabe, talvez um dia, como quase tudo na Amazônia, os estrangeiros pantetei como um tempero agregador de valor nutritivo a outros alimentos e de valores econômicos. Enquanto isso, seguimos usando da mesma forma que nossos antepassados indígenas usavam há milhares de anos atrás!

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