terça-feira, 5 de março de 2013

A malva e os homens anfíbios


Com a subida das águas, começa a colheita da malva. Essa é uma das culturas cultivadas na Amazônia, que acompanha o movimento das águas. Quando está seco, sua semente é semeada em toda a área de várzea, rica dos elementos naturais deixados pelo tempo que a terra ficou inundada. Na maneira de falar, quando as terras vão saindo d'água o agriucultor joga nela a semente e vai acompanhando a "descida" líquida e semeando.

Como toda cultura da agricultura a colheira da malva segue seus rituais próprios. Num primeiro momento, quando ela atinge seu tamanho adulto, é cortada e enfeixada; esses feixes são deixados espalhados pelo chão perto da beira d'água que os cobrirá conforme vai enchendo. O segundo momento mais cruel para o agricultor, os feixes, as varas são tiradas do fundo onde se encontram. Geralmente metade da pessoa passa o dia n'água (ficam homens anfíbios) e a outra metade no escaldante sol amazônico, batendo as varas da plantas, agora, já apodrecidas por terem estado de molho por um bom tempo. O terceiro momento ela é colocada em varais para secar e só assim alcançar a fibra que é.

  
Todo processo de semear, passando pela colheita, cololcar no varal e fazer os feixes finais, é um tempo de muito trabalho no sol e n'água. Trabalho para deixar sequelas físicas para todo o resto da vida.

No município de Anamã, onde moro; principalmente no paranã onde a cidade está localizada, desde sua entrada no rio Solimões até o lago do Caapiranga são muitos e muitos kilometros plantados com malva. Segundo os moradores hoje não é plantado nem a metade do que foi um dia. A terra é boa, terra de várzea e as pessoas da região conhecedoras de todo processo da malva. Apesar de ser um trabalho duro e desgastante é uma economia para as famílias e para o município.

O desafio esse ano para vender a malva é o seu preço, atualmente está custando R$ 1,10 o kilo dela. Pense lá, são necessários uma tonelada para ter R$ 110,00; 10 toneladas para chegar a R$ 1.100 reias e isso são meses de trabalho de uma família de uma média de 4 ou 5 pessoa.

Moramos numa região própria para várias culturas que poderiam melhorar a qualidade de vida do homem amazônico, porém, faltam diversas políticas públicas para melhor gozarmos do mundo verde e líquido. Quem sabe um dia chegará esse tempo!


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